HISTÓRIAS DO VALE
Presépios e Figureiras: A região do Vale do Paraíba possui um traço cultural característico que está presente na tradição da cerâmica representativa, realizada pelas figureiras que, a partir do barro, representam seus cotidianos, devoções, festejos, modos de ver, sentir e estar no mundo.
Em suas peças trazem imagens e histórias que se vinculam às manifestações culturais do entorno, retratando os bichos, a lida na roça, o dia a dia comum e aqueles especiais dos dias de festa.
A geografia do local, com seus rios e riachos cobertos de argila nas margens, propiciou a feitura de objetos de barro, desde tempos remotos, contando com a influência de povos indígenas da região. No entanto, o início dessa atividade como figura representativa e sua afirmação no tempo espaço como elemento de identidade e tradição, está intimamente ligada à feitura de presépios natalinos. Estes, vendidos nos mercados municipais ou praças das cidades de São José dos Campos, Caçapava, Jacareí, Pindamonhangaba e principalmente em Taubaté.
“Eu considero que as figuras, pra mim, sempre foi o natal”.
Ismênia
figureira
“Na feira. Como a gente vendia no Natal!”
Idalina
figureira
“Só na época do Natal, mas fazia antes. Nós íamos guardando aí quando chegava lá para o mês de outubro a gente começava a pintar para levar no mercado no começo de dezembro.”
Luiza
figureira
E de onde vem a tradição de se fazer presépios com figuras de barro?
“Segundo a historiadora taubateana, Maria Morgado de Abreu (1991), a tradição de fazer figuras de barro, para enfeitar os presépios domésticos, teria surgido, em meados do século XVIII, por influência dos frades franciscanos que vieram se instalar na Vila de Taubaté.
Conforme a tradição católica, o presépio foi realizado pela primeira vez na Europa
por São Francisco de Assis para representar o nascimento de Jesus Cristo e
depois foi difundido entre as culturas do Sul da Europa, especialmente, por meio
dos frades franciscanos e de seus mosteiros.
É devido a esta forte ligação que muitos atribuem aos frades e à sua
tradição, em montar os presépios, uma das explicações para o início da
modelagem de figuras na cidade e remetem-na para a data de fundação do
convento em Taubaté. Esta origem de caráter religioso, no entanto, assumiu um
valor muito maior entre pesquisadores e apreciadores da arte figureira do que
entre as próprias artesãs que não renegam esta gênese, mas não a aceitam
prontamente. O que ocorre entre elas é uma maior valorização de sua própria raiz
familiar.
O que se percebe é a necessidade de afirmarem que são herdeiras de uma
tradição, sim, mas familiar, que receberam de seus ancestrais diretos.”
(OLIVEIRA, Marcelo Pires de. O Galinho do Céu: os saberes das figureiras de Taubaté. Campinas-SP: 2007. pág. 111)