PRESÉPIO E PESQUISA DE CAMPO

Angela Savastano conta que o início das pesquisas folclóricas no museu estavam relacionadas aos presépios e ao ciclo natalino. No final da década de 1980, ainda sob as articulações da Comissão de Folclore, documentou histórias de pessoas que tinham o costume de montar presépios e aproximou-se das manifestações culturais que permeiam essa tradição.

A partir das pesquisas de campo, juntamente com Yolanda Borghoff conheceu o engenheiro José Luiz Goulart Botelho, dono da Empresa Convale, que, em 1990, construiu um grande presépio na Praça do Pôr do Sol, na Vila Adyana, região central da cidade. A praça ficava em frente ao prédio Plaza del Sol que seu José Luiz construía junto com seu sócio. Diante do presépio chegaram a realizar novenas. Esse costume repetiu-se por mais de uma vez até que no ano de 1993, realizou-se uma grande festa para comemorar a inauguração do prédio, tendo como base os princípios natalinos.  

A amizade perdurou e anos depois Angela soprou nas memórias e afetos do engenheiro e o convenceu a montar um novo presépio, a fim de receber as folias de reis da região e abrigar toda a dinâmica cultural que envolve o ciclo natalino. 

Seu Botelho, mineiro e bom apreciador da cultura popular, aceitou o desafio e montou o presépio em frente ao novo prédio que estava construindo, desta vez na Vila Ema. As peças eram grandes, quase que em tamanho real. O ano foi 1996. Infelizmente não conseguimos recuperar fotos desse evento, mas temos o cartaz produzido para divulgar a festa. 

Arrumou-se uma devota de santos reis, pagadora de promessas, para preparar a refeição. Ela, cozinheira de mão cheia, tinha seu jeito muito próprio de ritualizar a feitura da comida e decidiu que faria uma canja de galinha. Porém, só poderia fazer se fosse com água de poço artesiano. Coincidência ou não, essa água veio de um poço que ficava dentro do Parque da Cidade, onde, anos depois, o Museu do Folclore se instalou.

Seu Botelho, construiu até um fogão no local para fazer a comida e receber as folias de reis.

Toda a dinâmica envolvida  nessa ação foi cuidadosamente fomentada para que os devotos e amantes da cultura popular tivessem seus saberes e fazeres respeitados, e para que pudessem, espontaneamente, realizar suas manifestações em torno do ciclo natalino. Houve troca, valorização e fortalecimento dos traços culturais ligados às folias de reis.

Isso virou uma espécie de embrião para se consolidar, depois, como a Chegada das Bandeiras,  evento realizado há 24 anos no Museu do Folclore, reunindo diversas folias de reis da região em torno de um presépio, sempre montado por um devoto local.  

Foto 1 – José Luiz Goulart Botelho e a esposa Magali Calil Botelho em frente a construção do prédio da praça do Por do Sol. (dez/1990)

 

Foto 2 – Mãe e filha (Cinthia Botelho) em frente ao mesmo prédio (dez/1990)

 

Foto 3 – Praça do Pôr do Sol no início da construção 

 

Foto 4 – José Luiz Goulart Botelho e a esposa Magali Calil Botelho na sala do casal. (nov/2021)